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domingo, 5 de maio de 2019

CABOCLA IARA


















CABOCLA IARA





Iara é a deusa encantada das águas doces, diferente do deus 
Rudá que é o deus do
 mar, cultuado pelo povo indigêna, é a deusa mais ligada 
a Mamãe Oxum, a Cabocla 
Iara é uma cabocla muito conhecida na Umbanda, alguns 
afirmam ser ...irmã da 
Cabocla Jurema, mas de certo o que se sabe é que esta 
entidade é uma das
 falanjeiras da linha de Oxum, cabocla de genio bem forte 
e de linha de cura,seu
 grito é como se fosse um passaro.



É certo que está entidade vibra na corrente de Oxum, abaixo 
segue o mito e a
 história desta Deusa tupi-guarani.



Iara ou Uiara (do tupi 'y-îara senhora das águas) ou Mãe-d'água, 
segundo o folclore 
brasileiro, é uma sereia. De pele morena clara e cabelos negros,
 tem olhos verdes e
 costuma banhar-se nos rios, cantando uma melodia irresistível. 
Os homens que a 
vêem não conseguem resistir a seus desejos e pulam nas águas e
 ela então os 
leva para o fundo do rio, de onde nunca mais voltam. Os que
 retornam ficam
 loucos e apenas uma benzedeira ou algum ritual realizado por 
um pajé consegue 
curá-los. Os índios têm tanto medo da Iara que procuram evitar
 os lagos ao
 entardecer.





O Mito

Moça bonita, de cabelos demasiadamente longos, que sempre 
mora nas águas 
perto das matas. Pode morar no mar, nos rios, nos lagos
, nas cachoeiras e nas
 lagoas.

Vez por outra, nas horas mortas da noite, 
especialmente em 
noite de luar, canta.

Diz que duma voz tão boa, bonita e tocante 
que o homem que a ouve morre de 
paixão por ela.



Quando o Homem se apaixona por ela, ele é 
levado ao fundo das águas (mar,rio,
cachoeira,lago ou lagoa)e é devorado pela Iara.



Não se entende nada de suas cantigas porque 
canta em língua indígena. 
Se a mãe-d'água por acaso um dia morrer, sua
 fonte seca.



Lendas



A Lenda da Iara, a deusa das águas, traduz a relação
 do caboclo com o mundo 
aquático da Amazônia, cuja paisagem ganhou do
 poeta baré Thiago de Mello
 o nome de “Pátria das Águas”. Essa interação 
permanente do amazônida com 
as águas gerou a chamada civilização ribeirinha, 
na qual os rios, lagos, igarapés e
 igapós são fontes da vida, da morte e do i
maginário regional. São caminhos,
 referências e habitat naturais dos que vivem ou 
viveram, durante séculos, às
 margens do grande rio Amazonas e de seus inumeráveis 
tributários, herança
 cultural que recebemos de nossos ancestrais
 indígenas e portugueses. Mas 
a relação do caboclo com os rios não é apenas 
uma conjunção física e
 conjuntural, vai muito além do campo material,
 é sensível e presente. Nunca 
suas histórias são contadas no tempo passado,
 são presentes como se 
estivessem acontecendo naquele momento, ali 
mesmo.



Os colonizadores também foram vencidos pelas 
águas da região, assimilando
 a cultura ribeirinha milenar, mas incorporando à
 descendência cabocla
 lembranças do além-mar, formadas no novo
 ambiente cultural. Assim nasceu
 a Iara, o Boto e tantas outras lendas que hoje
 compõem a legião dos encantados 
da cultura amazônica. Os encantados, aliás, 
estão em todos os lugares, como
 afirma o poeta e escritor paraense João de 
Jesus Paes Loureiro – estão
 entre os índios e caboclos, entre o céu e a terra,
 nas selvas, nos campos, 
no fundo das águas...



Segundo Paes Loureiro, “a Iara – Mãe d’Água – 
vive nas encantarias do fundo
 dos rios. Ela atrai os moços e os fascina, 
mostrando-lhes seu rosto belíssimo
 à flor das águas e deixando submersa a cauda 
de peixe. Para seduzi-los, 
faz promessas de todos os gêneros. Para 
aumentar o estado de encantamento 
canta belas melodias com voz maviosa.
 Convida-os a irem com ela para o
 fundo das águas do rio – onde se localiza a
 encantaria – sob a promessa
 de uma eterna bem-aventurança em seu 
palácio, onde a vida é uma
 felicidade sem fim. Quem tiver visto seu rosto
 uma única vez jamais poderá 
esquecê-lo. Pode até, no primeiro momento, 
resistir-lhe aos encantos por 
medo ou precaução. No entanto, mais cedo 
ou mais tarde acabará por 
se atirar no rio em sua busca, levado pelo desejo 
ardoroso de juntar seu 
corpo ao dela”.



O historiador Vicente Salles conceitua Iara como a
 mais perfeita convergência
 cultural na mítica amazônica, reunindo figuras
 antológicas de vários
 continentes: Sereia, Ondina, Loreley, Mãe-d’Água,
 Iemanjá. É uma simbiose 
encantada de mulher tentadora, sensual, apresentada
 com rosto europeu
 e longos cabelos e que recorre à magia do canto 
para exercer a sua 
irresistível atração fatal sobre navegantes e
 moradores da beira-do-rio, 
preferencialmente jovens.



Os indígenas também possuem inúmeras
 entidades aquáticas, mas 
nenhuma delas com as qualidades malignas e 
fatais de Iara. 
Sempre encontram remédio para as maldades, 
sublimando inclusive a morte. Para eles, o rio
 representa a
 fonte de sobrevivência e não da morte no
 “espelho do amor”. Por outro lado, o
 índio não reprime a sexualidade pelos arreios 
da sua cultura ou da civilização cristã do branco, 
razão pela qual não se vale de entes sensuais na
 sua mitologia. Sempre cita a beleza das cunhãs como
 referência estética e não como objeto da libido. A sua 
Mãe-d’água é a guardiã dos rios, bondosa e se materializa 
nas plantas e flores aquáticas que alimentam os peixes, 
segundo lendas da algumas tribos.



Raimundo Moraes credita às leituras da Odisséia de Homero, 
feitas pelos colonizadores lusitanos, a lenda da Iara, 
configurada como uma linda mulher, metade gente e
 metade peixe, belos cabelos compridos, busto cheio e 
cauda de escamas multicoloridas, que vive nas margens 
dos rios e igarapés, seduzindo o caboclo para arrastá-lo ao 
fundo das águas. O pesquisador diz que a entidade também 
pode materializar-se em forma de lontra, no perfil de garça 
ou sob as penas da cigana para encantar o ribeirinho.



As observações do historiador repousam em pesquisas
 feitas na região amazônica e na leitura dos clássicos da 
literatura universal que apontam convergência entre a 
mitológica Sereia e a Iara amazônica. Navegador por 
excelência, o colonizador português assimilou as lendas 
do mar e trouxe para cá suas tradições seculares. Os
 Lusíadas, de Luís de Camões, menciona várias vezes 
a presença de Sereias na rota dos navegadores l
usitanos, lembrança de outros autores clássicos
 como Virgílio (Eneida), Heródoto (Epítetos) e Homero 
(Ilíada e Odisséia). Todos se referindo à figura 
sedutora e fatal da entidade similar, ora na forma
 de mulher, ora feita ave ou animal anfíbio.



O Barão de Santana Neri, falando sobre o folclore
 brasileiro, descreve Iara como uma mulher branca, 
de olhos verdes e cabeleira loura, conceitos pesquisados
 nos Estados do Pará e Amazonas. Diz ainda que
 sua beleza física, seus métodos de sedução e sua
 residência submersa revelam origem alienígena.
 A oferta de tesouros e palácios, por exemplo, também 
confessa uma cultura importada, vez que os aborígenes
 desconheciam esses valores. Já o folclorista Câmara 
Cascudo, cobra possível contribuição do negro na 
lenda da Iara, lembrando a sereia africana Kianda e
 até a figura poderosa de Osum, orixá dos lagos,
 lagoas e rios, da teogonia negra. Iemanjá, deusa
 das águas, também é lembrada como inspiradora 
do mito amazônico. Contudo, s Mães-d’água
 africanas, com suas liturgias e rituais em nada 
lembram a nossa deusa das águas, a não ser a morada.



O mito da Iara, aliás, como já foi dito, pode ser
 reconhecido em várias culturas. Na Espanha chama-se
 Sirena; na Grécia, a mitológicas Nereidas; na Alemanha, 
a nórdica Loreley; a Kianda africana e a portuguesa 
Sereia, criaturas das águas que enamoram os homens
 e os levam à morte. Mas o seu estereótipo físico e
 malévolo garante a origem portuguesa do mito 
amazônico, inspirado nos cantos de Homero e nas
 esculturas de Praxíteles e Escopo. O colonizador, 
que chegou com a fé cristã e os costumes europeus, 
também trouxeram na bagagem suas lendas, mitos 
e superstições, muitas delas modificadas ao longo 
do tempo na convivência cabocla, que lhes emprestou 
e recebeu valores, coroando a fronte da Iara com flores
 lilás do mururé, por exemplo.



A suprema sabedoria do amazônico, que soube usar a lenda do Boto para aplacar a ira de maridos traídos e pais enganados, quando suas mulheres ou filhas engravidam fora do domínio doméstico, também justifica na sedução da Iara a fuga ou o desaparecimento de seus entes queridos.