Iara é a deusa encantada das águas doces, diferente do deus
Rudá que é o deus do
mar, cultuado pelo povo indigêna, é a deusa mais ligada
a Mamãe Oxum, a Cabocla
Iara é uma cabocla muito conhecida na Umbanda, alguns
afirmam ser ...irmã da
Cabocla Jurema, mas de certo o que se sabe é que esta
entidade é uma das
falanjeiras da linha de Oxum, cabocla de genio bem forte
e de linha de cura,seu
grito é como se fosse um passaro.
É certo que está entidade vibra na corrente de Oxum, abaixo
segue o mito e a
história desta Deusa tupi-guarani.
Iara ou Uiara (do tupi 'y-îara senhora das águas) ou Mãe-d'água,
segundo o folclore
brasileiro, é uma sereia. De pele morena clara e cabelos negros,
tem olhos verdes e
costuma banhar-se nos rios, cantando uma melodia irresistível.
Os homens que a
vêem não conseguem resistir a seus desejos e pulam nas águas e
ela então os
leva para o fundo do rio, de onde nunca mais voltam. Os que
retornam ficam
loucos e apenas uma benzedeira ou algum ritual realizado por
um pajé consegue
curá-los. Os índios têm tanto medo da Iara que procuram evitar
os lagos ao
entardecer.
O Mito
Moça bonita, de cabelos demasiadamente longos, que sempre
mora nas águas
perto das matas. Pode morar no mar, nos rios, nos lagos
, nas cachoeiras e nas
lagoas.
Vez por outra, nas horas mortas da noite,
especialmente em
noite de luar, canta.
Diz que duma voz tão boa, bonita e tocante
que o homem que a ouve morre de
paixão por ela.
Quando o Homem se apaixona por ela, ele é
levado ao fundo das águas (mar,rio,
cachoeira,lago ou lagoa)e é devorado pela Iara.
Não se entende nada de suas cantigas porque
canta em língua indígena.
Se a mãe-d'água por acaso um dia morrer, sua
fonte seca.
Lendas
A Lenda da Iara, a deusa das águas, traduz a relação
do caboclo com o mundo
aquático da Amazônia, cuja paisagem ganhou do
poeta baré Thiago de Mello
o nome de “Pátria das Águas”. Essa interação
permanente do amazônida com
as águas gerou a chamada civilização ribeirinha,
na qual os rios, lagos, igarapés e
igapós são fontes da vida, da morte e do i
maginário regional. São caminhos,
referências e habitat naturais dos que vivem ou
viveram, durante séculos, às
margens do grande rio Amazonas e de seus inumeráveis
tributários, herança
cultural que recebemos de nossos ancestrais
indígenas e portugueses. Mas
a relação do caboclo com os rios não é apenas
uma conjunção física e
conjuntural, vai muito além do campo material,
é sensível e presente. Nunca
suas histórias são contadas no tempo passado,
são presentes como se
estivessem acontecendo naquele momento, ali
mesmo.
Os colonizadores também foram vencidos pelas
águas da região, assimilando
a cultura ribeirinha milenar, mas incorporando à
descendência cabocla
lembranças do além-mar, formadas no novo
ambiente cultural. Assim nasceu
a Iara, o Boto e tantas outras lendas que hoje
compõem a legião dos encantados
da cultura amazônica. Os encantados, aliás,
estão em todos os lugares, como
afirma o poeta e escritor paraense João de
Jesus Paes Loureiro – estão
entre os índios e caboclos, entre o céu e a terra,
nas selvas, nos campos,
no fundo das águas...
Segundo Paes Loureiro, “a Iara – Mãe d’Água –
vive nas encantarias do fundo
dos rios. Ela atrai os moços e os fascina,
mostrando-lhes seu rosto belíssimo
à flor das águas e deixando submersa a cauda
de peixe. Para seduzi-los,
faz promessas de todos os gêneros. Para
aumentar o estado de encantamento
canta belas melodias com voz maviosa.
Convida-os a irem com ela para o
fundo das águas do rio – onde se localiza a
encantaria – sob a promessa
de uma eterna bem-aventurança em seu
palácio, onde a vida é uma
felicidade sem fim. Quem tiver visto seu rosto
uma única vez jamais poderá
esquecê-lo. Pode até, no primeiro momento,
resistir-lhe aos encantos por
medo ou precaução. No entanto, mais cedo
ou mais tarde acabará por
se atirar no rio em sua busca, levado pelo desejo
ardoroso de juntar seu
corpo ao dela”.
O historiador Vicente Salles conceitua Iara como a
mais perfeita convergência
cultural na mítica amazônica, reunindo figuras
antológicas de vários
continentes: Sereia, Ondina, Loreley, Mãe-d’Água,
Iemanjá. É uma simbiose
encantada de mulher tentadora, sensual, apresentada
com rosto europeu
e longos cabelos e que recorre à magia do canto
para exercer a sua
irresistível atração fatal sobre navegantes e
moradores da beira-do-rio,
preferencialmente jovens.
Os indígenas também possuem inúmeras
entidades aquáticas, mas
nenhuma delas com as qualidades malignas e
fatais de Iara.
Sempre encontram remédio para as maldades,
sublimando inclusive a morte. Para eles, o rio
representa a
fonte de sobrevivência e não da morte no
“espelho do amor”. Por outro lado, o
índio não reprime a sexualidade pelos arreios
da sua cultura ou da civilização cristã do branco,
razão pela qual não se vale de entes sensuais na
sua mitologia. Sempre cita a beleza das cunhãs como
referência estética e não como objeto da libido. A sua
Mãe-d’água é a guardiã dos rios, bondosa e se materializa
nas plantas e flores aquáticas que alimentam os peixes,
segundo lendas da algumas tribos.
Raimundo Moraes credita às leituras da Odisséia de Homero,
feitas pelos colonizadores lusitanos, a lenda da Iara,
configurada como uma linda mulher, metade gente e
metade peixe, belos cabelos compridos, busto cheio e
cauda de escamas multicoloridas, que vive nas margens
dos rios e igarapés, seduzindo o caboclo para arrastá-lo ao
fundo das águas. O pesquisador diz que a entidade também
pode materializar-se em forma de lontra, no perfil de garça
ou sob as penas da cigana para encantar o ribeirinho.
As observações do historiador repousam em pesquisas
feitas na região amazônica e na leitura dos clássicos da
literatura universal que apontam convergência entre a
mitológica Sereia e a Iara amazônica. Navegador por
excelência, o colonizador português assimilou as lendas
do mar e trouxe para cá suas tradições seculares. Os
Lusíadas, de Luís de Camões, menciona várias vezes
a presença de Sereias na rota dos navegadores l
usitanos, lembrança de outros autores clássicos
como Virgílio (Eneida), Heródoto (Epítetos) e Homero
(Ilíada e Odisséia). Todos se referindo à figura
sedutora e fatal da entidade similar, ora na forma
de mulher, ora feita ave ou animal anfíbio.
O Barão de Santana Neri, falando sobre o folclore
brasileiro, descreve Iara como uma mulher branca,
de olhos verdes e cabeleira loura, conceitos pesquisados
nos Estados do Pará e Amazonas. Diz ainda que
sua beleza física, seus métodos de sedução e sua
residência submersa revelam origem alienígena.
A oferta de tesouros e palácios, por exemplo, também
confessa uma cultura importada, vez que os aborígenes
desconheciam esses valores. Já o folclorista Câmara
Cascudo, cobra possível contribuição do negro na
lenda da Iara, lembrando a sereia africana Kianda e
até a figura poderosa de Osum, orixá dos lagos,
lagoas e rios, da teogonia negra. Iemanjá, deusa
das águas, também é lembrada como inspiradora
do mito amazônico. Contudo, s Mães-d’água
africanas, com suas liturgias e rituais em nada
lembram a nossa deusa das águas, a não ser a morada.
O mito da Iara, aliás, como já foi dito, pode ser
reconhecido em várias culturas. Na Espanha chama-se
Sirena; na Grécia, a mitológicas Nereidas; na Alemanha,
a nórdica Loreley; a Kianda africana e a portuguesa
Sereia, criaturas das águas que enamoram os homens
e os levam à morte. Mas o seu estereótipo físico e
malévolo garante a origem portuguesa do mito
amazônico, inspirado nos cantos de Homero e nas
esculturas de Praxíteles e Escopo. O colonizador,
que chegou com a fé cristã e os costumes europeus,
também trouxeram na bagagem suas lendas, mitos
e superstições, muitas delas modificadas ao longo
do tempo na convivência cabocla, que lhes emprestou
e recebeu valores, coroando a fronte da Iara com flores
lilás do mururé, por exemplo.
A suprema sabedoria do amazônico, que soube usar a lenda do Boto para aplacar a ira de maridos traídos e pais enganados, quando suas mulheres ou filhas engravidam fora do domínio doméstico, também justifica na sedução da Iara a fuga ou o desaparecimento de seus entes queridos.
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